30 agosto, 2011

Rascunhos feitos por aí

- Miau - disse o cão.
- Aprendeste a falar gatês cãozinho? - respondeu a Russian Blue, enquanto o rodeava arqueada e insinuante, cada ron ron mais convidativo que o anterior.
- Sim, quero dizer amo-te numa língua que tu entendas.
- Pobre rafeiro, não te cansas de despir o coração? Não passas de uma distracção em tempos de tédio. Jogo-te como um pião. Percebeste, ão ão ão?

25 agosto, 2011

J. Liar C.

Crescemos convencidos que mais tarde, já grandes, não seremos outra coisa que não felizes.
O que nos levará a pensar que somos tão incrivelmente especiais que não há como não sermos felizes? Como se fossemos detentores de uma luz que nos destaca da horda e nos atribui o direito indiscutível à felicidade, uma espécie de prorrogativa por sermos quem somos.

Uma arrogância, uma mentira e uma ilusão.


Para já a felicidade não existe ( jura? ) e os momentos felizes que conseguimos obter exigem um esforço e um trabalho constantes. É muito cansativo. Quantas vezes conseguimos o que queremos? Algumas. Porque não basta querer para ter, é preciso lutar, despender tempo e ter muita força de vontade.

Mas quando nos vamos abaixo e nos sentimos desmotivados não será mau de todo lembrarmo-nos de que se não fosse esta luta permanente, não teríamos a oportunidade de parar e perceber que, às vezes, aquilo que procuramos deixou de fazer sentido. É a tal história do pensa bem naquilo que desejas porque podes obter exactamente aquilo que queres.


Vem tudo isto a propósito do post anterior. O processo de decisão acerca de enviar ou não aquela mensagem, deu-me tempo para perceber que o destinatário não a merecia mas foi por pouco que o imediatismo das minhas emoções e intuições (quase sempre o ponto de partida para a conquista daquilo que eu acho que me concretiza) não me conduziram a uma grande asneira.


Foi algo mais. E sei, claro que sei, que para ti também foi mais uma constatação do que um  encontro.


Não foi. Para ti não foi nada. Percebi que além de  as minhas deduções serem umas putas que me ludibriam, não vales o trabalho que estava disposta a empreender para a loucura de te ter.


Vou continuar a procurar e a trabalhar pela minha felicidade, que agora está mais próxima porque vou ganhar o tempo que ia perder com um traste mentiroso como tu.






23 agosto, 2011

J.C

Isto que vou escrever sou eu a pôr as cartas na mesa, sou eu a dizer tudo o que quero que saibas.
Claro que preferia sentar-me à tua frente a conversar, a olhar para ti, mas ambos sabemos que não te posso convidar para um café, ou para um cinema ou para um passeio ou para o que quer que seja que ultrapasse os muros da casa dos nossos dois amigos.

Isto que vou escrever não é uma forma de te pressionar, que fique bem claro. Escrevo-o mais por mim do que por ti. Para desabafar.
Porque eu, mesmo sabendo que me vou expor a ti desnecessariamente, mesmo sabendo que podes agarrar nestas palavras todas, amachucá-las e atirá-las contra mim, sou incapaz de não partilhar contigo tudo o que, desde aquele dia, me impede de dormir bem. É que não consigo mesmo. Tenho de falar.

Porque no final do caminho quero olhar para trás e saber que nada ficou por esclarecer. Quero assegurar-me que não vou ficar presa a um círculo de ses: e se eu tivesse feito isto? E se eu tivesse dito aquilo? E se e se e se…Eu não quero ser essa pessoa. Quero ter a coragem de dizer o que penso e a determinação necessária para fazer as minhas escolhas (mesmo as mais difíceis), ser dona da minha vida e dos momentos que a podem tornar feliz.
No final do caminho quero avançar sabendo que fiz tudo o que podia ter feito em relação a ti.

Sei que tens outra pessoa, com quem estás há alguns anos e de quem naturalmente gostas. Só assim faz sentido estar com alguém. Eu respeito isso apesar de não parecer.
Mas o que aconteceu connosco naquela noite tornou tudo tão evidente para mim. Percebes isso? Subitamente as coisas fizeram todo o sentido e nem foi preciso falar sobre elas. Foi uma questão de pele e de vontade, muita vontade. Foi algo mais. E sei, claro que sei, que para ti também foi mais uma constatação do que um  encontro.
Por isso, por mais que eu respeite a tua relação, respeito ainda mais a minha necessidade de ser fiel a mim mesma e ao que me permiti começar a sentir. De certa forma estas linhas (lamechas, maricas, enjoadas) são a minha forma idílica de lutar.

E chego agora à parte mais importante (mas tão simples) do que tenho para dizer: gostava de estar contigo. Só isso. Podíamos ser uma coisa boa. Ter pelo menos a hipótese de descobrir o que mais há em nós para além da atracção latente em anos de conversas provocantes que nunca pensei passarem disso.
Digo isto consciente de que estou a delirar. Mas a verdade é que há uma grande diferença entre o que se sabe e o que se sente e o que sentimos não desaparece só porque é algo completamente alucinado.

Não sou parva, sei que se quisesses falar comigo já o tinhas feito e sei o que isso significa - que devia estar calada e quieta no meu canto - mas prefiro que penses que sou ridícula e completamente sem noção da realidade do que fingir que não se passou nada.

Disseste-me que nem imagino a complicação que está a tua vida. É verdade, não sei. Mas aprendi que aos nossos olhos as coisas são sempre muito mais difíceis e assustadoras do que realmente são. Não quero minimizar o que se passa na tua vida mas a verdade é só uma: se na maior parte do tempo nos sentimos bem estamos no caminho certo, se passamos a vida na mó de baixo então está na altura de mudar.

E, por favor, por favor, não penses que te estou a pedir para terminares uma relação de anos. Não estou. Só estou a ser o mais transparente que consigo. Uma mulher atraída por ti, que te quer mais do que supunha e que gostava que não andássemos sempre desencontrados porque, não há desculpas, somos sempre nós a escolher o caminho que seguimos.

E se tiveste paciência para ler até aqui, resta-me dizer -te que vou pôr-me no meu lugar, seguir a minha vida e não complicar a tua, pensar em ti constantemente até te esquecer. Continuar a encontrar-te exactamente nas mesmas circunstâncias de sempre mas sem o cock teasing habitual. Vai ser difícil (e muito aborrecido) mas lá está: quando um não quer dois não dançam.

 

Continua a ter a forma do teu corpo.