22 junho, 2011

Os vivos é que sofrem

Logo agora que pus a casa à venda é que o meu vizinho decide assassinar o senhor seu padrasto.
Não queria acreditar quando reconheci a minha placa de "Vende-se" na fotografia do corpo da vítima a ser recolhido pela PSP num saco jeitoso em cinza rato.
É que tinham que me estragar o negócio.

20 junho, 2011

C.T.L

Ele agrada-me. É o tipo de homem por quem me podia apaixonar, não só porque me deslumbra  mas também porque tem um talento do tamanho de um gigante (muito maior que ele) que mexe particularmente com o meu sistema límbico.
Introdução escusada porque, a partir de determinada altura, ele deixou de estar disponível. Olhou para mim e disse-me assim, não te posso dar aquilo que tu queres e mereces, não estou disponível para isso agora. E foi isto que ele disse, sem tirar nem pôr.

Acho engraçada esta história da disponibilidade. Parece que toda a gente, menos eu, tem esta capacidade de tratar o amor- ou a mera sugestão dele- como um assunto profissional que se gere, adia e remarca, como quem organiza uma agenda. Todos uns cobardes. Claro que é muito mais fácil recorrer ao confortozinho de um eufemismo.
Para mim, nisto das relações, o ponto de partida é muito simples: ou se gosta ou não se gosta. E ele não gostava.
Mas, como somos todos adultos e deveras racionais, não há cá espaço para dar atenção a feridas do ego e muito menos revelá-las a quem quer que seja. O passo seguinte é, como toda a gente sabe, o ficarmos amigos.
Tudo bem, comigo é na boa. Sejamos amigos.

E aqui a amiga foi vê-lo brilhar. Tentou estar presente em todos os seus grandes momentos, não porque se tratassem de espectáculos geniais e imperdíveis mas tão só porque era ele quem lá estava. Era ele. Queria que se sentisse apoiado.
E o que é que eu recebo em troca? Porque tem de existir troca, a amizade alimenta-se dela, exige que se receba para se poder dar.
Ora eu recebo mensagens, de forma periódica, como quem marca o ponto. Mensagens em que se enviam beijos e se exprimem muitas saudades. Mensagens com sugestões de cafés e conversas que nunca se concretizam. Nunca, nunca, nunca. E isto enerva-me.

Eu preciso de confidências, preciso de rir, preciso de tocar, às vezes  não preciso de nada a não ser estar. E preciso de descobrir a outra pessoa.
O que não preciso é destas mensagens que, de tão iguais, já perderam o significado que até puderam ter. Sinto-me parva duas vezes.
Não preciso destas migalhinhas.
Nos afectos eu quero sempre tudo, não me contento com menos que isso. Ou tudo ou nada.

E isto não me enervaria tanto se não se tratasse de uma pessoa que eu admirava e que me deslumbrava e por quem, caso houvesse disponibilidade de sua Exa., me podia  facilmente apaixonar.
É que nem amigo, que caralhinho.


19 junho, 2011

Mudanças

Vou mudar de casa.
Parece uma frase tão simples: presente do indicativo, infinitivo, proposição e substantivo. Gramaticalmente simples.
Mas nada é simples. Ultimamente nada é simples.
Esta frase tem em si todos os passos que dei para chegar até aqui. Estão lá tempos felizes, tempos de merda, tempos de esperança e tempos de completa descrença. Cada uma daquelas palavrinhas começa a não ter força suficiente para conter a enxurrada de emoções que também por lá vivem. Se não tenho cuidado vem aí um descontrolo capaz de levar tudo à frente. A começar por mim. Será épico.
Estou habituada a viver sozinha e a não ter mais ninguém para me aparar os golpes mas aqui posso admitir que só queria descansar um bocadinho, poder baixar a guarda sem ter logo de levar as mãos à cabeça para me proteger da inevitável traulitada que sempre se segue. Pavlov style.

Tenho de contrariar isto, dê lá por onde der.

18 junho, 2011

Ready to take off

Há demasiado tempo que penso em escrever sobre a vida paralela que acontece na minha cabeça. Ignorei sempre essa vontade, por preguiça essencialmente. É o meu  pior defeito.
Parece-me às vezes que tenho preguiça para tudo na vida. É porque não encontro paixão em lado nenhum e em coisa alguma. Sem paixão não é possível qualquer entusiasmo e a preguiça vai  assentando em camadas cada vez maiores

Hoje magoaram-me profundamente. Sinto-me posta de lado por pessoas que considerava minhas amigas. Sermos rejeitados é  do caraças mas quando nos sentimos feridos pelos nossos amigos a coisa ganha contornos de crime de lesa pátria. A amizade é o poder mais soberano, pelo menos para mim.

E, assim, triste e desencantada, cheguei a casa e decidi escrever. E  reinventar-me.
O despeito é uma razão tão válida como outra qualquer.