01 abril, 2012

Tudo passou menos esta cicatriz que tenho na mão esquerda. Naquele dia em Serralves, mais um daqueles dias em que carregávamos o peso do mundo por dentro, agarrei no canivete e rasguei a pele. Talhei uma fresta na carne para aquela dor insuportável sair. Não senti nada.
Lembrei-me disto no caminho. Não fosse esta cicatriz a dizer-me que sim, que eu fui assim, e poder-se-ia acreditar que aquela pessoa nunca existiu. Tenho orgulho no que me tornei.

Estás igual a ti próprio. A mesma insatisfação generalizada que te torna miserável, que contagia e corrói a alma de quem te ama, que se alimenta da sua individualidade até não existir nenhum traço de personalidade. Fazes desaparecer pessoas inteiras, sabias?

O trabalhão que eu tive  para me encontrar depois de ti. Voltar? Não me insultes por favor.
Vai para a casa. Tens uma namorada à espera. Se bem me recordo, não deve ser capaz de dormir, ansiosa por reconhecer o barulho do teu carro, entre todos os carros que entram naquela garagem. Ninguém merece uma noite assim.

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