15 dezembro, 2011

On the Rocks

Da próxima vez que me deixares pendurada peço-te, desde já  e mui respeitosamente, que o faças com pelo menos um dia de antecedência.
Tinha  poupado:

Dinheiro:

-12,50€ pagos por um brushing;
-10,00€ de manicure;
-30,00€ de depilação - porque nunca se sabe o que pode acontecer e convém estar bonitinha;
Tempo:

-uma manhã a limpar a casa;
-algumas horas a passar a ferro ( porque ter a roupa amachucada pelos cantos transmite uma imagem de desmazelo que convém evitar);
-minutos e minutos de conversas românticas inventadas na minha cabeça. Saberia sempre o que te dizer. Palavras que oscilariam entre o muito engraçado e o extremamente sedutor e que te iam dificultar a missão de me resistires;

Na tua falta de respeito pelo meu tempo e por mim houve apenas uma coisa boa:

Descobri que na tarefa de acalmar os nervos, apaziguar o desencanto e constatar o quão ridícula se pode ser, um copo de Bushmills com gelo funciona muito melhor que o choro compulsivo e o vociferar de impropérios.
O sofrimento mantém-se mas o esmalte Irlandês dá-me uma aura Hollywoodesca, década  40/50,  que não me fica nada mal e torna a minha dor mais glamourosa.

Obrigada por isso bébé.


12 dezembro, 2011

Coração de Entrepreneur

Em conversa com um amigo no Facebook, diz-me ele:
- Dar só o que se recebe é um erro. Por vezes tens que investir para depois colheres os frutos. Tens é que saber analisar o investimento. O amor é tal e qual uma empresa: às vezes tens lucros, outras vezes assumes as perdas. Não tens lucros sem investir primeiro mas dificilmente perdes sistematicamente até à falência.

O  J. tem um coração de entrepreneur. Já o meu fez aquilo que ele classificou de improvável: entrou em falência.

Por falar em facas

A Metáfora

No ano passado
escrevi um poema
que começava assim:
"sinto a lâmina do teu ciúme no meu peito"
- era uma metáfora, claro.
E não suspeitei.
Agora,
que me espetaste a faca de descascar batatas entre as costelas,
único desfecho lógico para o nosso amor;
agora, que sinto a lâmina
e o sangue morno a alastrar-me na camisa,
sei, finalmente e tarde demais,
a fraca expressividade das metáforas.

Por isso,
se ainda gostares um bocado de mim,
pede para, na segunda edição,
alterarem o verso para:
"sinto o teu ciúme como uma lâmina no meu peito".

-José Luis Peixoto

J.L.C

Queria conseguir dizer como me sinto para que o sentimento pudesse aliviar. Acho que já merecia um desfecho menos destruidor porque, apesar de tudo, disponibilizo-me a arriscar e a deixar que alguém entre.
Não sei o que era suposto aprender com isto. Que ninguém presta, que ninguém tem carácter, que a única forma de sobreviver é conseguir, aceitar e querer ser sozinha. Ou que não sou “gostável”.

Tenho-me esforçado tanto para aceitar esta forma de vida. Esta "hopeless emptiness"Preciso de fechar todas as persianas de mim e não as voltar a abrir.
É fundamental interiorizar isto. Não ceder, não me entusiasmar, não pensar que desta vez – da próxima vez – as coisas podem ser diferentes.

As coisas, invariavelmente, são punhais enterrados até ao cabo no meu peito. No meu coração sobram já poucas veias, ramos, válvulas, aurículas, artérias, ventrículos sem lâminas cravadas.
A verdade é que não há alívio possível. Aliviar, puxar uma das facas, neste estado em que me encontro, pode fazer-me sangrar até à morte. Se doer um bocadinho menos ainda penso que tenho estrutura para me deixar encantar mais uma vez, viver o momento, não pensar no desfecho da aventura. O que fosse seria.

Não se pode acreditar em nada nem em ninguém. Voltar a acreditar é morte certa.