19 fevereiro, 2013

Pai

Há um momento nas nossas vidas em que percebemos que os nossos pais não vão viver para sempre.
Esta semana o meu pai fez 58 anos e apesar de tudo indicar que ainda tem muitos anos pela frente, tenho dado comigo a pensar que chegará um tempo em que o meu pai não estará mais.


Nessa altura o mundo vai continuar sem o meu pai mas eu desconheço como poderei continuar sem ele.

E mesmo tentando evitar, tenho pensado nisso, antecipando um terrível sentimento de perda. E sinto necessidade de deixar estas palavras por escrever, ligar ao meu pai e dizer-lhe  que me sinto abençoada por o ter. Que lhe aprecio o carácter trabalhador, o espírito aberto, a forma como vive para a minha mãe, a sensibilidade e o lado emotivo com que sempre me educou e que eu, orgulhosamente, herdei dele.

Gostava que soubesse que tenho dele as melhores memórias: 
Lembro-me que me levava ao parque sempre que eu pedia e não se importava de me empurrar horas a fio no baloiço ou nas argolas.
Vejo-o na nossa rua a ensinar-me a andar de bicicleta, para trás e para a frente, a mão firme no selim, eu não te largo, dizia, pedala filhota.
Mais tarde decidiu que eu tinha que aprender a mudar um pneu e eu nunca mais me esqueci que primeiro subo a roda e depois é que acabo de desenroscar as porcas.
E aquele dia em que fez tantos quilómetros para almoçar comigo só porque me sabia de coração destroçado.

Daqui a alguns anos sei que me vou lembrar com muita ternura de todas as alturas em que montámos juntos os móveis do Ikea, ainda que com muitos berros à mistura. 

Aconteça o que acontecer posso sempre contar com o meu pai.

E no entanto, não lhe consigo dizer que o amo. Eu que me orgulho de não ter vergonha de dizer o que sinto, que me revelo a outros sem embaraço, fico com as palavras presas na garganta ao pé do meu pai. 
Quase digo mas apenas insinuo.





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