18 abril, 2012

Conversas recorrentes com o meu afilhado de 5 anos

G- Madrinha porque é que tu não tens marido?
Eu - ( @#&$$!% ) Então porque ainda não encontrei uma pessoa de quem goste muito muito e que também goste muito de mim.
G - Mas porque é que não arranjas um Pedro, um João Pedro, um Rodrigo. Há tantos!
Eu - Porque temos que gostar, gostar é muito importante. Se não gostarmos é melhor estarmos sozinhos ou não achas?
G - Não, não acho, eu acho que tu devias ter um marido. Tens um ano passado para encontrares um marido ou  então eu mudo de casa.

Alguns minutos depois:


G- A M. diz que é minha namorada mas eu não gosto dela.
Eu - Estás a ver como a parte do gostar é importante. Se não gostas dela não vais namorar com ela porque depois tu não és feliz e a M. também não é feliz.
G- Eu acho que a minha mãe não gosta muito do meu pai.
Eu - Mas porque é que dizes isso?!
G- Porque acho. E o meu pai gosta da minha mãe mais ou menos.
Eu - Isso não é verdade. Se isso é verdade porque é que os teus pais estão juntos?
G- Porque querem paz e sossego!
Eu - ( silêncio)  ... (silêncio)... Olha aqui esta música que tu gostas tanto!

Dois ou três  quilometros depois:


Eu - Gostaste de ir à Eurodisney? Vi uma fotografia em que estavas a tentar tirar a espada do Rei Artur.
G - Pois mas não consegui porque só um homem muito especial é que consegue tirar aquela espada.

(...)

G - Sabes madrinha, homens especiais não existem.
Eu - (perdida de riso) Ora aí está! Estás a ver porque é que  ainda não tenho um marido. Dá cá cinco!
G- ( risos e high five).

16 abril, 2012

No tempo em que ignorava que o coração se fecha a cada golpe e que quanto mais se vive maior é o medo, expunha-me sem hesitar escrevendo cartas de amor

Chegaste atrasado mas não importa.
Sempre existi a pensar em ti. Sempre, sobretudo às vezes, carreguei o peso da tua ausência e enquanto não chegaste não vivi, fui vivendo.
Durante todos os dias, de todos os meses, de todos os anos, em que o tempo se divertiu a  tentar fazer-me pequena, a gritar constantemente  continuas sem eletentei esquecer a única verdade que sei dar sentido à minha vida. Fingi desprezar a importância de te ter porque  não te tinha ainda. 
Para sobreviver convenci-me de que nunca ias  aparecer.

Ainda demoras muito? Vem depressa, por favor.
Eu a presenciar coisas bonitas e nem sinal de ti.

Está tudo bem, também não preciso de ninguém.

Eu, com uma acomodação que entristece e destrói, aniquiladora do  ímpeto e da vontade e tu desaparecido. Eu, anestesiada de tédio, cansada de te procurar e não encontrar. Eu, com ataques periódicos de auto-piedade.

E foi então que vieste, apareceste-me Clean.

Conheci finalmente o teu rosto e vi-me obrigada a deixar cair a minha convicção inabalável de que estaria sempre sozinha. Tive medo de me entregar porque depois de ver as cores do meu mundo a preto e branco seria trágico voltar àquela existência dormente. Para não me magoar quis precipitar o fim - e olha que me bati bem. Só que tu, minha vida, tomaste-me nos braços e mostraste-me a felicidade dos momentos partilhados, colaste com carinho os caquinhos da minha personalidade partida.

Fizeste-me mulher, mulher, mulher.

Sabes que agora o tempo não pesa, passa, voa e grita Amo-te sempre, sobretudo às vezes.




15 abril, 2012

Epá, acontece

Estive alguns minutos a tentar estacionar o carro, de marcha-atrás, num lugar ligeiramente apertado.
Não consegui à primeira mas não desisti. Voltei a tentar e continuou a ser uma tarefa complicada só que agora tinha mesmo de conseguir porque tinha uma plateia de homens a assistir, todos a julgar as minhas capacidades de condutora só porque sou mulher. Motherfuckers.

Acho que tentei mais duas vezes, bati com a traseira num pilar de metal e finalmente percebi que estava a tentar estacionar o carro no espaço em que as pessoas deixam os carrinhos de super mercado.

Embraiagem, primeira, está no ir que não é nada comigo.


14 abril, 2012

Stand Up

Sou uma pessoa que odeia conflitos. Viram-me do avesso. Evito-os sempre, ainda que saiba que devia marcar a minha posição e defender-me.
Paraliso e não consigo argumentar à mesma velocidade que o meu cérebro processa todas as coisas que deveriam ser ditas no momento em que as devia dizer. E é claro que isso me deixa num estado de ruminação absoluto e esgotante.

Mas pior do que ficar em loop cerebral  com o que eu devia ter dito era isto, sou mesmo estúpida, isso é que era, para a próxima não deixo passar, é a sensação de desilusão comigo mesma, cada vez maior e proporcional ao número de sapos que vou engolindo. E vão sendo muitos. 
E isto tem que mudar, sobretudo nos desentendimentos que tenho com as pessoas que me são mais queridas. Não posso continuar a pedir desculpa só para que fique tudo bem porque não fica, comigo não fica tudo bem.

E foi isso que fiz com uma grande amiga que foi profundamente injusta comigo por causa de uma situação pequena e  ridícula. Se temos de ser maus para alguém ao menos que seja por uma coisa verdadeiramente importante. Tentei dizer-lhe que as palavras dela me magoaram muito. Tentei explicar que não estava a minimizar os sentimentos dela mas sim aquilo que os criou. Tentei fazê-la perceber que há limites para a forma como se fala com alguém, mesmo que seja alguém que normalmente come e cala, como eu.

Ingénuamente esperava que ela reconhecesse a minha capacidade de defesa, já que me conhece tão bem. Não foi isso que aconteceu. Não consigo descrever o desrespeito com que fui tratada e o autismo das ofensas mas posso dizer que se a minha casa fosse um bar teria sido encerrado por níveis de décibeis acima dos permitidos por lei.

Não sei se perdi uma amiga. Sei que preciso de tempo sem ela. Onde está o limite para as coisas que se aceitam em nome de uma amizade? Será que uma amizade sobrevive quando constantemente se põem coisas para trás das costas?

Estou lixada com isto.




05 abril, 2012

The Office

Hoje, no trabalho, esta conversa aconteceu mesmo:

Eu - Para encontrares alguma coisa fazes assim, carregas ao mesmo tempo na tecla Ctrl e na tecla F, ou seja, Ctrl+F.
Colega - Tecla F, mas qual F ? O meu teclado tem 12.

Pois, a sério.





01 abril, 2012

Vai sozinho, deixa a míuda.

De um dia para o outro toda a gente quer ir ver os aviões. Irra.
Tudo passou menos esta cicatriz que tenho na mão esquerda. Naquele dia em Serralves, mais um daqueles dias em que carregávamos o peso do mundo por dentro, agarrei no canivete e rasguei a pele. Talhei uma fresta na carne para aquela dor insuportável sair. Não senti nada.
Lembrei-me disto no caminho. Não fosse esta cicatriz a dizer-me que sim, que eu fui assim, e poder-se-ia acreditar que aquela pessoa nunca existiu. Tenho orgulho no que me tornei.

Estás igual a ti próprio. A mesma insatisfação generalizada que te torna miserável, que contagia e corrói a alma de quem te ama, que se alimenta da sua individualidade até não existir nenhum traço de personalidade. Fazes desaparecer pessoas inteiras, sabias?

O trabalhão que eu tive  para me encontrar depois de ti. Voltar? Não me insultes por favor.
Vai para a casa. Tens uma namorada à espera. Se bem me recordo, não deve ser capaz de dormir, ansiosa por reconhecer o barulho do teu carro, entre todos os carros que entram naquela garagem. Ninguém merece uma noite assim.